Ode ao porco é uma das composições mais belas e singelas de Tia Anita. A simplicidade com que discorre versos frugais pela folha de papel faz lembrar esse grande poeta do povo, de seu nome Carlos Carrapiço, criado por Herman José, que um dia distorceu de forma genial versos de Florbela Espanca:
"Bate, bate levemente
Como quem chama por mim
Será chuva, será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim
Fui ver:
Era o Octávio"
Enfim, desculpem-me este aparte, mas de facto, existe um certo paralelismo semântico entre a composição de Anita e a de Carrapiço. Versos como “Ó Lua que vais tão alta” chamam a si o apelo que já existia em “Bate, bate levemente”: O apelo do fenómeno natural rústico, da Lua que bate à porta trazendo consigo o mistério das noites frias da atmosfera campesina.
No segundo verso, destaque para a nítida contradição traduzida pelo oxímoro visível em “redonda como um caixote”. Tia Anita revela a aqui todo o campo semântico inerente à Lua, elemento mítico de sugestão de estados de espírito contraditórios. “redonda” e “caixote” são bem palavras que sugerem volume originário de pesadelos nocturnos óbvios. O poeta sofre de lunofobia ou então apaixona-se pela própria Lua, numa dança contraditória que pode ir até ao absurdo do amanhecer, da queda no real e nas tarefas do quotidiano campesino. Entra aqui a imagem inesperada e verdadeiramente genial dos porcos, animal mundano como o ser humano, passível de pesadelos e torturas, tragédias românticas que conduzem à morte:
“matas-me os porcos todos” .
Ainda antes, no penúltimo verso desta magnífica composição, o prolongamento do oxímoro, qual contra-senso mágico só possível no mundo dos sonhos surreais:
“Rebolas daí de cima”
O caixote a rebolar não é mais do que o espelho do estado de espírito do poeta, atormentado por densos sonhos de amores perdidos, metaforizados em luas que são caixotes a rebolar pela atmosfera.
O surrealismo é evidentemente uma cambiante da escrita de Anita, bem como um romantismo exacerbado e um sensacionismo aliado ao amor forçado pela terra, ao peso gravítico da condição humana, incapaz de se elevar acima de um caixote para poder tocar a Lua terna.
Destaque finalmente para aspectos formais muito ténues, mas relevantes: a ausência de rima na passagem para o último verso ilustra bem o estado de espírito massacrado do poeta. Ele sofre pelos seus amores, perdidos em pesadelos rústicos e lunáticos. Por último, a retórica de natureza simples traduz a índole campestre que se pretende transmitir.
Bom, ou é isto que Ti Anita pretende transmitir, ou então trata-se de uma anedota e eu estou para aqui a fazer figura de urso.
"Bate, bate levemente
Como quem chama por mim
Será chuva, será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim
Fui ver:
Era o Octávio"
Enfim, desculpem-me este aparte, mas de facto, existe um certo paralelismo semântico entre a composição de Anita e a de Carrapiço. Versos como “Ó Lua que vais tão alta” chamam a si o apelo que já existia em “Bate, bate levemente”: O apelo do fenómeno natural rústico, da Lua que bate à porta trazendo consigo o mistério das noites frias da atmosfera campesina.
No segundo verso, destaque para a nítida contradição traduzida pelo oxímoro visível em “redonda como um caixote”. Tia Anita revela a aqui todo o campo semântico inerente à Lua, elemento mítico de sugestão de estados de espírito contraditórios. “redonda” e “caixote” são bem palavras que sugerem volume originário de pesadelos nocturnos óbvios. O poeta sofre de lunofobia ou então apaixona-se pela própria Lua, numa dança contraditória que pode ir até ao absurdo do amanhecer, da queda no real e nas tarefas do quotidiano campesino. Entra aqui a imagem inesperada e verdadeiramente genial dos porcos, animal mundano como o ser humano, passível de pesadelos e torturas, tragédias românticas que conduzem à morte:
“matas-me os porcos todos” .
Ainda antes, no penúltimo verso desta magnífica composição, o prolongamento do oxímoro, qual contra-senso mágico só possível no mundo dos sonhos surreais:
“Rebolas daí de cima”
O caixote a rebolar não é mais do que o espelho do estado de espírito do poeta, atormentado por densos sonhos de amores perdidos, metaforizados em luas que são caixotes a rebolar pela atmosfera.
O surrealismo é evidentemente uma cambiante da escrita de Anita, bem como um romantismo exacerbado e um sensacionismo aliado ao amor forçado pela terra, ao peso gravítico da condição humana, incapaz de se elevar acima de um caixote para poder tocar a Lua terna.
Destaque finalmente para aspectos formais muito ténues, mas relevantes: a ausência de rima na passagem para o último verso ilustra bem o estado de espírito massacrado do poeta. Ele sofre pelos seus amores, perdidos em pesadelos rústicos e lunáticos. Por último, a retórica de natureza simples traduz a índole campestre que se pretende transmitir.
Bom, ou é isto que Ti Anita pretende transmitir, ou então trata-se de uma anedota e eu estou para aqui a fazer figura de urso.
5 comentários:
Muito boa esta análise ao meu poema, caro rodriguez, dá-lhe um valor k nem eu própria sabia existir!!!
Bela análise, sim Senhor...parabéns!
A Tia Anita é aquela senhora da família do Zé Lua que tem um porco poderoso que dá conta das porcas da rua das mimosas até às bandas da América?
Ouvi dizer que existe um novo candidato a patrocinador do blog Torta, e ele é o Têtas? É verdade?
Timblina
Sem palavras.
Zédadinita
Um poema sentimental para dormir bem....
"Dorme dorme bebézinho
Que o papá foi pró moinho
E a mamã caiu na lama
Já não tens quem te dê mama"
Fiquem na paz!!!!
Avelino Sãtomé
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